“Jesus entrou no meu coração” e “Jesus limpou meu coração” são idéias comuns em canções infantis evangélicas de hoje. Os adultos ensinam e as crianças cantam. Mas poucos entendem o que está por trás de frases assim. Num mundo que se distancia cada vez mais de tudo o que a Palavra de Deus ensina, o Evangelho tem se resumido a um conjunto de sentimentos momentâneos de uma rasa religiosidade Ocidenal. Falta estudo da Bíblia e falta a compreensão do que é o coração humano. O resultado é gente convidando Jesus para entrar em um “lugar” desconhecido e limpando uma suposta parte do corpo que não tem significado algum.
O coração é o centro de controle do Homem, de onde “depende toda a sua vida” (Pv 4.23). É lá que residem os pensamentos, intenções, crenças, desejos e atitudes. Esse centro do controle do homem também é chamado de mente, alma e espírito no Novo Testamento. De uma certa forma, são todos termos sinônimos, ou melhor, intercambiáveis. Ou seja, o coração faz referência ao homem interior como um todo. Tudo o que não pertence à composição física do homem faz parte do centro de controle, que é o homem interior (Mt 13.15).
Uma análise de diversas passagens bíblicas aponta o coração como centro de controle em três áreas principais: intelecto, afeição e vontade. Primariamente, o coração refere-se ao intelecto, que inclui pensamentos, crenças, lembranças, juízos, consciência e discernimento (1 Rs 3.12; Mt 13.15; Mc 2.6; Lc 24.38; Rm 1.21; 1 Tm 1.5). Outra parte do centro de controle do homem é composta pelas afeições, que incluem os sentimentos e emoções (Dt 28.47; 1 Sm 1.8; Sl 20.4; 73.7; Ec 7.9; 11.9; Is 35.4; Tg 3.14;). E, a terceira área do coração é a vontade. A vontade é o aspecto da parte da pessoa interior que escolhe ou determina ações (Dt 23.15-16; 30.19; Js 24.15; Sl 25.12).
Porém, essas três “frentes” do coração não devem ser encaradas como entidades distintas e isoladas. O homem interior não deve ser visto exclusivamente debaixo de suas divisões funcionais, mas na sua unidade de essência. Intelecto, afeição e vontade trabalham em cooperação mútua e não existem isoladamente. O coração é como um diamante com facetas distintas, chamadas de intelecto, afeição e vontade. Porém, todas fazem parte da mesma preciosidade: o coração. Portanto, a dinâmica do centro de controle humano envolve o pensamento como orientador do juízo de valores, que alimenta o desejo. Por sua vez, o desejo é resultado do direcionamento da vontade. E a rede de valores e desejos alimentam as afeições, que influenciam nas decisões. Essa é uma dinâmica tão difícil de descrever quanto de separar suas partes.
Seja como for, tudo o que é estudado com relação às diversas áreas da vida deve ser aplicado ao nível do coração, pois ele representa quem o homem verdadeiramente é (Pv 27.19). Meras mudanças comportamentais não irão promover transformação genuína na vida de ninguém. A transformação que agrada a Deus deve acontecer no nível do coração, é lá que está o real problema e o centro de controle de todo o homem. Somente um coração transformado pela graça de Cristo pode cumprir o propósito original da criação.
A implicação da definição bíblica do coração é que todo e qualquer problema do Homem está relacionado ao coração. Todos os dias, o Homem deve escolher a quem irá amar mais: Deus ou a si mesmo. Somente o Espírito Santo através da Palavra de Deus pode revelar a verdade por trás de decisões tomadas no coração humano (Hb 4.12). Então, “Jesus entrou no seu coração”? “Jesus limpa seu coração”? Em outras palavras, quem está no comando? O Senhor Jesus é Senhor sobre seus pensamentos, seus desejos e suas afeições? Santificação progressiva é uma realidade no nível de seu intelecto, vontade e emoção ou apenas uma doutrina na Teologia Sistemática da sua estante?
Por Alexandre Mendes
(artigo originalmente postado no blog da Editora “Tempo de Colheita” com o título de “Centro de Controle”)
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